Dicotomia

Será que um dia
eu vou conseguir entender
por que insisto em continuar acreditando
nessas mentiras tão reais
que invento?

Será que vou ter coragem
de arriscar o que tenho,
o que me sufoca,
o que eu definitivamente não quero,
pra experimentar voar
do meu jeito
lá longe?
Seria fuga?
e se fosse, seria problema?
pra quem?

Será que um dia acordarei
livre de tantas culpas
das quais me apropriei
sem ninguém me oferecer?

e será que eu vou esperar
você ir embora
pra eu me desamarrar de mim mesma
e assumir pro mundo (o meu)
que você foi uma das poucas coisas
realmente boas,
realmente humanas,
realmente sóbrias, ternas
e, dicotomicamente, tátil e etérea
que me aconteceu?

Eu sou uma criança mimada
e com muito medo do escuro.

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